26 de março de 2017

tudo parece forçado, inclusive eu.

os discursos que eu fazia há pouco tempo atrás, as notícias do jornais, as frases prontas das pessoas ao redor, as repostas automáticas para as perguntas óbvias. a impressão que me passa é de que nada mais é novidade, tudo é um remake do que já passou. só que eu não tenho mais tempo para sentar no sofá e assistir a esse Vale a Pena Ver de Novo.

assim como também não tenho mais tempo para ouvir, para refletir nem para ser eu mesma. sempre que há o mínimo de interação interpessoal eu volto pra casa imaginando que tudo que eu falei foi uma vergonha completa e que as conexões e conjunções verbais não fizeram o menor sentido lógico.

até mesmo para escrever vai ser preciso uma visão externa da minha carcaça para que eu consiga aguentar essas palavras que me soam tão previsíveis e imundas.

29 de julho de 2015

das inconstâncias relativamente constantes que me surgem por aqui: como lidar?

não sei bem o que fazer da vida. são infinitos os textos filosóficos e mensagens de auto-ajuda que você lê durante a faculdade sobre como você fica perdida depois que se forma e nem imagina que este fardo cairá nas tuas costas mais cedo ou mais tarde.

quer dizer, não sei se fardo é a palavra correta. afinal, faz pouco tempo que me formei e ainda não dá pra fazer um relatório completo e detalhado sobre minha situação. 

tudo isso se torna complicado porque sempre achei que sabia muito bem o que estava fazendo e acreditava piamente o que estaria por fazer agora. o fato é que eu não me lembro bem o que eu estava pensando há um ano atrás.

claro que existe aquele companheira e fiel falha na memória, que já tornou minha existência bem mais confortável na terra; mas tem também a parte em que é bem provável que eu esteja me sabotando mais uma vez.

outro dia me peguei pensando que deveria bordar. veja só que audácia: eu, que nunca tive o menor dom ou vocação para tal coisa, querendo bordar. mainha até que tenho me ensinar crochê quando eu era pré-adolescente (esse termo me dá agonia). e eu até gostava. mas nunca passei das trancinhas e não cheguei perto de fazer um babado bonito em um pano de prato sequer. apesar de achar tudo aquilo muito belo, a agulha fazia calo no meu dedo e ele já era tão feio e ossudo, que não queria estregar mais o pobre coitado.

mais pia, agora eu bordo. ou, pelo menos, provei pra mim mesma que posso bordar se eu quiser. na mesma hora que me deu a vontade peguei 12 reais, fui num armarinho aqui do bairro e comprei dois paninhos, duas linhas e duas agulhas de ponto cruz. em menos de uma semana já estava levando jeito. comprei mais material e me desembestei pro bordado livre ~~ que me atrai só pelo nome ~~ mas que também tem uma boniteza muito atrativa na sua feitura. agora conheço termos como etamine, arremate e bastidor. isso por si só é fantástico.

em dois meses consumi todo o meu tempo para aprender um pouco sobre essa arte e acho que até fui bem. mas aí sinto que estou entrando na fase de não gostar mais. o que é uma pena, já que se eu continuasse sairiam coisas ótimas. só que cismei com outra coisa: quero voltar a fotografar.

tinha largado essa minha paixão por motivos totalmente desconhecidos e isso mexeu comigo durante muito tempo. pode ser que a obrigação de fazer isso por dinheiro e de forma bem comercial tenha desencantado todo aquele amor construído durante anos. pode ser que eu tenha me sabotado novamente para poder encontrar prazer em outras paixões. pode ser apenas que eu tenha abusado de tudo e pronto. 

todo esse lenga lenga percorrido no caminho me fez ter necessidade de outro tipo de experiência fotográfica. a câmera se tornou muito grande, a troca de lentes se tornou cansativa e o tamanho da máquina se tornou exaustiva e espalhafatosa. lá vai eu agora querer entrar na modinha das mirrorless e criar a necessidade de comprar outros equipamentos para satisfazer meus desejos momentâneos.

mas eu não sei bem o que estou fazendo. pode ser que dê a doida e amanhã de manhã as coisas mudem. posso criar outra paixão ou até mesmo arrumar um emprego de carteira assinada.

12 de novembro de 2014

eu não sabia que poderia dar um tíute. eu não sabia que ia ficar mufinando pelos cantos. não sabia que esse negócio de férias era tão necessário assim. é incrível como eu não sei de nada.

diariamente estou aprendendo coisas novas. isso é natural. o mais incrível é que, por mais que você a cada minuto saiba de coisas diferentes, cometa novos erros, viva sensações distintas; você enxerga o quanto não sabe absolutamente nadica de nada da vida. 

férias não é somente aquele afastamento merecido do trabalho, conquistado após longos 12 meses de trabalho intenso, assegurado e remunerado pelo INSS. as férias que me refiro são aquelas da vida. férias de pessoas, de rotinas, de trânsito, de um mesmo horário para acordar, de uma mesma linha de raciocínio a seguir.

minha casa reflete minha alma. nunca fui Amélia, nem tenho tal vocação. mas, poxa! como adoro arrumar a minha casa. deixá-la limpa, cuidar das plantas, avivar suas cores, organizar meus objetos que guardo com tanto zelo. aqueles poucos metros quadrados do apartamento é minha representação em detalhes.

não poder cuidar desse espaço, das luzes, nem tampouco observar com mais frequência aquele amarelado que pinta a janela e a parede da área de serviço a cada fim de tarde, me dói. deitar no chão e ouvir música, assistir tv enrolada no lençol vestindo minha roupa de dormir no auge das 15h da tarde me faz falta. 

mais uma vez me perdi, me desencontrei. não sei mais o que almejo nem onde quero chegar. as pessoas me decepcionam cada vez mais e me motivam a conviver com elas cada vez menos. preciso me encontrar de novo. minha vida é uma eterna busca em saber quem eu sou e para onde quero ir. talvez essa definição nunca seja encontrada. talvez eu seja essa eterna busca de querer me encontrar e ponto.

nem me lembro mais do quanto me esqueço de tudo. por isso vivo tão intensamente cada minuto de angustia ou de felicidade. porque sei que é só ali que vou sentir, depois não mais lembrarei de suas sensações. vou findar me tornando uma velha môca, esquecida e introspectiva.

me deixa sentir esse não-sentir, me deixa lembrar desse não-lembrar. 

24 de outubro de 2014

nunca termino nada. sou pentacampeã mundial em iniciar coisas, projetos, vidas e vivências. mas não concluo. talvez seja por essa esquizofrenia de querer fazer tudo e por essa determinação em não terminar nada. mas o fato é que eu tenho de terminar. vai ser a primeira vez na vida que vou fazer uma coisa completa. do início ao fim. dentro do prazo estipulado.

em janeiro de 2010 quando fui lá no setor III da UFRN fazer o cadastramento da minha matrícula no curso de comunicação social - o qual demorei exatos 4 anos para ser aprovada no vestibular da Comperve - naquela fila encantadora sob um sol de fim de tarde, subi as escadas para o primeiro andar do bloco C e, ao entrar na sala, assinei um papel que dizia que eu tinha minha graduação deveria ser concluída até 2017. esse é o prazo que se dá para pessoas como eu: que não terminam suas coisas e adiam até não poder mais. a UFRN é uma mãe.

pela ordem natural das coisas tenho 9 períodos para me graduar. ter o título de bacharel. né pouca bosta não. em agosto de 2010 entrei nos corredores do bloco H verde, despreparada e ansiosa; tudo parecia mais simples, apesar da dificuldade em executar o conhecimento e aprender a estudar. agora estou aqui, 4 anos e meio depois, no bendito 9º período e com a porra do perfeccionismo à flor da pele e a miserável da dislexia encangada na minha alma de tal forma que fica difícil de desgrudar.

finda que menos de dois meses para terminar tudo, o que eu mais quero é ouvir os clássicos da música brasileira. Gonzaguinha e Sérgio Sampaio estão sendo desbravados pela minha pessoa. mesmo que eu tenha à minha mesa artigos, referências bibliográficas, prazos, filmes, roteiro, storyboard, plano de filmagem, agonias, erros, falhas, apreensões, lágrimas.

claro que era esperado que tudo desse errado em um certo momento. num tá cá gota de a perfeição ser minha amiga.

não vou mentir que eu gostaria de desistir de tudo. sim, esse é o meu real desejo. era zerar a vida e viver do que a natureza oferece. mas eu tenho que fingir ser forte e dizer que estou estimulada, revigorada e mostrar que vou dar a volta por cima e concluir o que foi iniciado.

as pessoas esperam alguma coisa de mim. depositam confiança em mim. porque raios eu fui fazer isso com elas? porque as fiz acreditar que eu poderia conseguir as coisas?

no final das contas não sei se iludi mais os outros ou a mim.

mas eu vou terminar. vou ser forte. vai ficar bom. vou superar as expectativas. vou mostrar que sou capaz. que sou cotista mas não sou preguiça. que fui beneficiada mas que não fui mimada. vou fazer essa merda toda.

agora depois disso, não queiram mais nada de mim.

26 de setembro de 2014

a sensação de estar flutuando em cima de uma nuvem branca e os cabelos voando em uma não-sincronia contagiante surge involuntariamente por alguns segundos e depois se perde no ar. por mais que eu estique a minha mão e tente segurá-la por mais tempo ali comigo, meus dedos deixam escapar.

eu que sempre fui desleixada, agora parece que sou mais e cada dia me importo menos. algumas mudanças são tão naturais quanto o amanhecer do dia e parece que cada nova noite vem mais rapidamente, como se ela estivesse ansiosa por me mostrar o que tem depois.

o ciclo de estar onde se quer e querer mudar de lugar se renova a cada estação do ano, apesar de nunca saber quando a primavera vai chegar ou se o verão vai sumir.

como se houvesse diferença. há?

só o esforço pra lembrar de não esquecer das coisas simples  se torna suficiente para parecer que você está ali, atenta, como quem já foi um dia de lembrar.

mas tudo bem. tô voltando agora, não tenho pressa. só quero fazer sentido pra mim.

30 de janeiro de 2014

E se eu aproveitar essa chuva para correr ou ficar com os braços para cima, olhos fechados e rodando, rodando, rodando... Mas eu teria de aproveitar logo porque as chuvas aqui quase nunca vêm. Fui uma surpresa acordar hoje e ver que o céu estava cinza. Não percebi o barulho da chuva porque o sono estava pesado e o quarto todo trancado não permitia que os ruídos da rua entrasse por lá.

Que droga! Eu sempre deixo os ruídos da rua entrar. Logo hoje que chovia, tranquei tudo.

O percurso de casa para o trabalho foi incrível, pois choveu até o fim. Apesar de ter subido no ônibus e ter sentido aquele abafado desgraçado - porque todos fecham as janelas por completo - ainda consegui sentar na janela e abri um pouquinho de nada da janela e sentia um vento frio forte entrando e balançando meus cabelos.

Ficarei aqui dentro por 5 horas. Não sei o que me aguarda quando eu for lá fora, mas espero que ainda esteja chovendo.