nunca termino nada. sou pentacampeã mundial em iniciar coisas, projetos, vidas e vivências. mas não concluo. talvez seja por essa esquizofrenia de querer fazer tudo e por essa determinação em não terminar nada. mas o fato é que eu tenho de terminar. vai ser a primeira vez na vida que vou fazer uma coisa completa. do início ao fim. dentro do prazo estipulado.
em janeiro de 2010 quando fui lá no setor III da UFRN fazer o cadastramento da minha matrícula no curso de comunicação social - o qual demorei exatos 4 anos para ser aprovada no vestibular da Comperve - naquela fila encantadora sob um sol de fim de tarde, subi as escadas para o primeiro andar do bloco C e, ao entrar na sala, assinei um papel que dizia que eu tinha minha graduação deveria ser concluída até 2017. esse é o prazo que se dá para pessoas como eu: que não terminam suas coisas e adiam até não poder mais. a UFRN é uma mãe.
pela ordem natural das coisas tenho 9 períodos para me graduar. ter o título de bacharel. né pouca bosta não. em agosto de 2010 entrei nos corredores do bloco H verde, despreparada e ansiosa; tudo parecia mais simples, apesar da dificuldade em executar o conhecimento e aprender a estudar. agora estou aqui, 4 anos e meio depois, no bendito 9º período e com a porra do perfeccionismo à flor da pele e a miserável da dislexia encangada na minha alma de tal forma que fica difícil de desgrudar.
finda que menos de dois meses para terminar tudo, o que eu mais quero é ouvir os clássicos da música brasileira. Gonzaguinha e Sérgio Sampaio estão sendo desbravados pela minha pessoa. mesmo que eu tenha à minha mesa artigos, referências bibliográficas, prazos, filmes, roteiro, storyboard, plano de filmagem, agonias, erros, falhas, apreensões, lágrimas.
claro que era esperado que tudo desse errado em um certo momento. num tá cá gota de a perfeição ser minha amiga.
não vou mentir que eu gostaria de desistir de tudo. sim, esse é o meu real desejo. era zerar a vida e viver do que a natureza oferece. mas eu tenho que fingir ser forte e dizer que estou estimulada, revigorada e mostrar que vou dar a volta por cima e concluir o que foi iniciado.
as pessoas esperam alguma coisa de mim. depositam confiança em mim. porque raios eu fui fazer isso com elas? porque as fiz acreditar que eu poderia conseguir as coisas?
no final das contas não sei se iludi mais os outros ou a mim.
mas eu vou terminar. vou ser forte. vai ficar bom. vou superar as expectativas. vou mostrar que sou capaz. que sou cotista mas não sou preguiça. que fui beneficiada mas que não fui mimada. vou fazer essa merda toda.
agora depois disso, não queiram mais nada de mim.